segunda-feira, 20 de julho de 2009

Bandas femininas

Quando se fala em mulheres em bandas de rock custuma-se apontar bandas que contam com uma mulher nos vocais, mais raramente tocando algum instrumento e quase nunca bandas inteiramente formadas por mulheres.
Quando apontam bandas formadas unicamente por mulheres há uma parcela que não toca nada e/ou usa o corpo para se promover (como RockBitch que ninguém presta atenção se banda é boa e sim por que elas tocam nuas e transam umas com as outras durante o show, além de outras que só tem integrantes bonitinhas e não tocam nada), e também tem aquelas que as moças só cantam e dançam. É claro que para cantar e dançar bem é necessário estudo mas são coisas que pode-se fazer sem estudo nenhum e não acho que seja considerado fazer música embora seja importante.
Nesta salada toda é bem difícil separar bandas femininas que valem a pena. Eu mesma conheço poucas então decidi dedicar um tópico as boas bandas femininas, pretendo aumentá-lo conforme for descobrindo bandas femininas de qualidade.



The Runaways



Vixen



Astarte



Crucified Barbara



Jack Off Jill (mudou a formação várias vezes, sendo algumas só com mulheres)



L7



Le Tigre (a banda é formada só por mulheres, este rapaz ai é uma moça, é sério)



Lesbians On Ecstasy (mesmo caso da Le Tigre)



The Donnas



Sahara Hotnights

Espero que gostem e espero também conseguir aumentar a lista.

domingo, 19 de julho de 2009

Homenagem atrasada ao dia do Rock...

Para homenagear o dia do Rock nada melhor do um video de uma das bandas feminina pioneiras e mais representativas. 
Com vocês The Runaways provando que as mulheres podem e devem fazer um bom Rock 'n' Roll.



E também a maravilhosa Joan Jett (que eu sempre considerei feminista) cantando Bad Reputation na sua carreira solo.



Rock 'n' Roll para tod@s


Boyfriend x Boy Friend

Ainda sobre aquela conversinha irritante que me fez refletir (aqui).

Tem outra coisa que me irrita muito (muito mesmo) no senso comum (para falar a verdade, muito do senso comum me irrita porém isso é outro post): Uma (um) mulher (homem) não pode ter amigos (amigas).
Amizade entre mulheres e homens não existe tolinha, ou ele quer "dar uns pegas" em você ou você quer "dar uns pegas" nele, e não tente protestar que você tem uma amizade pura com um homem por que ele certamente fica olhando a sua bunda quando você vira as costas fofa!

O fato amizade entre os sexos sempre foi (e ainda é infelizmente) considerada como algo inexistente ou então repleto de segundas intenções. Em inglês por exemplo namorado é boyfriend e amigo é boy friend (friend é uma palavra neutra, serve para ambos os sexos logo se você quiser específicar que é um amigo fica boy friend e no caso de amiga girl friend sendo namorada girlfriend), a mudança na pronúncia é muito sutil, e não é só em inglês não, tem línguas que chega a ser a mesma palavra para amigo e namorado. 
As cantigas de amigo portuguesas trazem um eu-lírico feminino falando do amado como amigo. Parece que as pessoas não evoluíram o suficiente para perceber a abissal diferença entre uma coisa e outra (amizades coloridas a parte, que na minha opinião é amizade com sexo apenas).

Como tenho muitos amigos homens (ainda tento desvendar por que, acho que a política de dividir para conquistar funciona muito bem com as mulheres) sempre acabam decidindo que um deles é meu namorado, ou está gostando de mim. A torto e a direito me deparo com uma dessas.
Ultimamente estou trabalhando perto da casa de um amigo meu que volta e meia passa por lá para darmos uma conversada, afinal este ano está foda e eu não estou com tempo para sair com meus amigos nem nada (depois que roubaram meu celular então, perdi contato com um monte e nem tive como pedir o telefone por orkut ainda) e mesmo que não estivesse, acho super legal poder encontrar pessoas que gosto e com as quais gosto de conversar principalmente com frequência.
Só que o pessoal já interpretou tudo do jeito que quis, já me perguntaram "trocentas" vezes se estou namorando com ele. Para piorar de vez a situação um dia ele apareceu lá com flores, que não eram para mim e mesmo que fossem isso não significaria nada do que esse povo pensa.

E isso me leva de volta a conversinha irritante porém inspiradora. Foi mais ou menos assim:

"Ah e aquele seu amigo que vem sempre aqui, vocês estão namorando, não?"
"Mas tem certeza, ah então ele gosta de você, por que ele vem aqui sempre."
"Tem certeza que ele não gosta de você? Ele sempre te olha de um jeito... parece que ele te admira tanto."
"Mas e as flores que ele trouxe?"
"Ah eram pra você sim, você que fez pouco delas e ele não quis te dar depois"
"Ah mas ele gosta de você e vocês combinam, por que você não namora com ele fofa?"
"Como assim você não quer namorar com ele, vocês conversam tanto."
"Ah mas ele gosta de você e vocês combinam."

Depois de toda esta lenga lenga babaca eis que uma delas me solta uma indireta (que eu demorei para perceber dado o absurdo da colocação mais fiquei brava depois que percebi)
"Ah mas hoje em dia tem homem que gosta de homem e mulher que gosta de mulher e é super normal." Eu concordei com um sorriso amarelo, feliz por terem parado de atacar minha vida pessoal e só depois percebi a ironia da infeliz. 
Que fique bem claro, não fiquei revoltada por que a sujeita insinuou que eu seja lésbica (até por que sou bi, estou na cristaleira por hora uma vez que não ando com tempo, saúde e paciência de abrir a cabeça das pessoas sem um machado, não escondo nem divulgo o que pretendo mudar tão logo quanto possível) o que me revolta é que para a sujeita se eu não gosto de ou não quero me envolver com um homem ou com um determinado tipo de homem eu só posso ser lésbica. Duvideodó que falariam o mesmo se fosse uma amiga, e também duvido que aplicariam esta lógica estúpida se eu fosse lésbica.
Aiaiai este povo além de machista é homofóbico que dói (diga não a homofobia aqui), me irritam e dão preguiça de argumentar, as opiniões estão tão prontas e os pensamentos tão fechadinhos. E ainda usam um verniz de tolerância de quinta categoria no melhor estilo "o c* não é meu, cada um faz o que quiser com o seu desde que não me envolva"

Espero que ela não saia aplicando este reducionismo babaca em tudo por ai, ou vou ser obrigada a fazer um discurso, pena que com esse povo é falar com a parede. Espero que em algum dia da minha vida possa ter amigos sem que fiquem especulando.

Goela abaixo (ou eu me fodi então todo mundo tem que se foder igual)

Se tem uma coisa que eu odeio nas pessoas que costumam seguir o senso comum é a mania que as mesmas tem de querer que todo mundo faça o mesmo e sair perpetuando coisas que elas nem sabem por que fazem, mas fazem, que nem sempre são boas mas se você não acha bom é anormal. É bem aquela coisa de pular na piscina que está fria e querer convencer os outros que a água está ótima e que a pessoa não sabe o que está perdendo.

Não sei se é por que eu procuro me esquivar do que o senso comum considera normal mas sempre acabo recebendo um sermão do tipo "eu me fodi então todo mundo tem que se foder igualzinho".

Creio que um dos melhores exemplos que tenho sobre esta mania das pessoas de quererem enfiar seus conceitos goela abaixo é o fato de não querer ter filhos. 
Pensei bastante na minha decisão, pesquisei bastante, comparei a vida com filhos com o estilo de vida que gostaria de ter (focada na carreira, viajando, fazendo cursos, etc.), pensei em como gostaria de educar uma criança caso decidi-se ter filhos, a situação do mundo e tudo o mais. 
Acabei considerando que ter filhos não seria uma boa coisa para mim, teria que desistir de coisas que quero muito fazer, teria que me sacrificar, e provavelmente não conseguiria educar a criança de uma maneira que considero adequada, isto além de não ter paciência com a maioria das crianças.
Apesar disso tem um monte de gente que fica insistindo que ter filhos é a oitava maravilha do planeta, que não existem dificuldades e que são tudo flores. 
Ter filhos deve ser maravilhoso para quem quer muito ter (como somos educados para ter filhos há pessoas que pensam que querem e descobrem que não querem quando já é tarde demais), deve dar muitas alegrias e tudo mais, porém fingir que filhos não dão trabalho, que não limitam os pais e que não implicam em gastos é muito infantil.
E o pior é que a pressão costuma vir de quem tem filhos irresponsavelmente e acha uma "bença", acho este papo de onde comem dois comem três, quatro, cinco balela, de que adianta ter um filho e não dar boas condições de vida para a criança (mais um dos motivos pelo qual não quero ter filhos), não precisa fazer todo o tipo de curso, nem estudar em escolinha paga, mas ter comida adequada, roupas, livros, material escolar, brinquedos; o mínimo, coisa que esse povo não pensa, dar tudo isso para uma criança é caro sim e as pessoas que tem filhos sabem que é. Logo esta coisa de todo mundo que tem filho é querer enfiar seu modo de vida goela abaixo, mania de quem fez merda e quer que todo mundo se foda igual.
Tenho uma amiga que tem cinco filhos, ama muito todos eles e é uma ótima mãe, mas se ela pudesse ter evitado acredito que não teria nenhum, a situação fica difícil pra ela, realmente uma luta, só que ela ao invés de querer enfiar pela goela que todo mundo tem que ser igual, fala que é difícil sim; admiro bastante esta posição dela, que tem coragem de dizer que filho dá trabalho, dá despesa e complica a vida sim.

Mas a minha idéia de começar este post veio de uma conversa que tive sexta feira no trabalho. A chefinha tinha saído e as meninas foram fazer as unhas, eu nunca faço as unhas pelo simples fato de que dá trabalho e estraga rápido (tenho o dom de estar com as unhas todas descascadas uma hora depois de ter pintado), ah é também tem o fator obrigação mas este merece um post.
Daí elas começaram a falar de cúticula, que fazem tiram mas que dói e que vive dando infecção mas mesmo assim tiram sempre (bem aquela coisa de eu me fodo para ficar bonita mas vale a pena, prejudico minha saúde mas vale a pena, eu nem sei por que faço isso mas vale a pena... e toda essa auto-afirmação que as pessoas que costumam fazer para se convencer que está tudo bem quando algo parece errado), então eu falei que não tiro a minha, ai elas olharam as minhas unhas e disseram que minha cúticula é pequenininha e coisa e tal, sempre complementando com "ah, a minha era assim antes de eu começar a tirar, se não tivesse começado seria assim mas não me arrependo de tirar."
Começaram a falar então sobre fazer sobrancelha, ai perguntaram se eu tirava (minha sobrancelha tem mais ou menos o formato de sobrancelha que as pessoas gostam de deixar), e eu disse que não, só se decidisse fazer algum visual específico, e de qualquer forma considero minha sobrancelha bonita e não vejo muito o que tirar dela.
Novamente começam com aquela coisa de "ah eu tiro sempre, minha sobrancelha era mais legal antes de começar a tirar, mas eu gosto de tirar a minha por que fica bonito e acho que você deveria tirar também fofa"
Eu inocentemente achava que não tinha como piorar até que decidiram atacar o assunto depilação (tem este ótimo texto da Marjorie sobre depilação e que entra um pouquinho nestas obrigatoriedades femininas que pretendo abordar mais tarde), e como já estavam me achando completamente excêntrica (para não dizer que me acham louca e anormal) decidiram me perguntar se eu me depilava, e eu já pronta para ouvir abobrinha quando falei que não. 
Só depilo as axilas por que suo muito e os pelos contribuem para ficar com cheiro de suor, sou uma pessoa quase desprovida de pelos, meu pai mesmo não tem pelos nos braços, nem nas axilas, peito ou pernas. Tenho muito cabelo mas pelo mesmo quase nada. Depilo as pernas apenas quando vou usar saia, contudo costumo usar saias até o joelho com meias 3/4, para usar short ou qualquer outro tipo de calça (principalmente se for curta) acho desnecessário, associei de alguma forma que perna peluda só fica feio com saia, mesmo assim se não depilar as pessoas vão ter que dar uma boa reparada para concluírem que não depilei. 
E claro, perguntaram se eu depilava os pelos pubianos e eu respondi calmamente que não, então todas as infelizes desataram a rir, coisa do tipo "como esta louca tem a audácia de nascer mulher e não quer se depilar? e ainda mais não quer depilar a vulva, eu tenho é que rir para não chorar, deixa eu procurar a câmera que só pode ser pegadinha, se eu contar ninguém acredita! isso é definitivamente ridículo!". É realmente constrangedor te tratarem como uma maluca por não considerar seus pelos pubianos um defeito, entretanto o pior é o velho discursinho "Ah, eu depilo com cera uma vez por mês para demorar mais para crescer, dói pacas e eu quase vejo estrelas mas você tem que depilar também fofa, se não nenhum bofe vai te querer, e se te quiser vai reclamar, sabe eu não aguento de dor quando depilo mas sei o que estou falando, é melhor pra você. Ah sim e faz com cera, não importa se sua pele é sensível e você fica inteira empipocada e se coçando por semanas, você vai achar o máximo."

Achei as observações sobre depilação dos pelos pubianos a cereja do bolo, será que esse povo não se conforma com quem faz algo diferente e que não incomoda ninguém? 
Tem que querer ficar enfiando as coisas goela abaixo? Tem que se meter nos mínimos detalhes da vida pessoal dos outros? Tem que querer se impor como @ don@ da verdade e pentelhar todo o resto de forma tão desagradável? Caramba, eu não imponho meu modo de vida para ninguém e gostaria de passar pelo mesmo, Será pedir muito?

Em tempo, tenho cabelos ondulados, cheios e armados (o que já me rendeu por diversas vezes a alcunha de Maria Bethânia ou de Gal Costa), na minha adolescência quando o meu cabelo tinha acabado de mudar (até os 13 anos tive cabelo liso) todo mundo me torrava a paciência falando de chapinha e escova "ah, eu sei que queima o cabelo com o tempo, o meu 'tá' todo estropiado mas o seu vai ficar lindo". O tempo passa e as coisa mudam mas não muito, surgiu a escova progressiva e agora a aporrinhação é para que eu faça esta, com direito a observações do tipo: "Ah, quando você faz o cabelo fica lindo mas depois arrebenta tudo, eu fiz e me arrependo. Mas fica lindo, você deveria fazer, vai por mim..."


Espanando a poeira e tirando as teias de aranha...

Estou ensaiando há bastante tempo para escrever no blog.

Sempre senti alguma necessidade de me expressar escrevendo textos porém sempre achei minha escrita sofrível (já me disseram que escrevo muito bem, o que custo acreditar mas enfim), acabei decidindo fazer este blog para postar textos com minha opinião sobre diversos assuntos que funcionaria como uma válvula de escape de toda a tensão deste fatídico ano em que vou concluir a faculdade. E quem disse que tive tempo para o coitado do blog, até fiz uma relação de textos que pretendo escrever para quando fosse retornar.

O primeiro semestre foi difícil, achei até que fosse postergar minha formatura em seis meses (pois é tudo o que te contaram sobre tcc é verdade, é completamente desgastante, voltarei a falar disso depois), eu que sou perfeccionista estava achando isso o cúmulo do fracasso e tive um acesso depressivo.

Entrei de férias e pensei: hora de tocar o trabalho e o blog.
Estava enganada novamente, trabalhando do outro lado da cidade e gastando em média duas horas para ir e duas horas para voltar chego em casa super cansada, isso sem contar que o transporte público de Sampa é sofrível, sempre vou em pé e esmagada por outros infelizes que tem o azar de depender da "barca do inferno" (apelido carinhoso que dei a linha 5012/10 vila guacuri - metrô jabaquara) para chegar até o metrô.
Resultado: nem o TGI (Trabalho de Graduação Interdisciplinar), nem o blog.

Então hoje me peguei pensando em dois tópicos de uma conversa chata que tive no trampo e achei que dariam bons posts, decidi então escrever mais um pouco no blog, porém não garanto que escreverei com frequência, quer dizer posso postar mais frequentemente no ano que vem, este ano já está garantido que não o farei, seria uma mentirosa se prometesse fazê-lo.

Caso leia algo que te agrade no blog e quiser ler as atualizações recomendo assinar o feed do blog para não ter que ficar entrando e dando de cara com os mesmos textos.

No mais obrigada a todos os que visitaram o blog, e a todos os que ainda visitaram, espero que gostem.

domingo, 8 de março de 2009

NO DIA 8 DE MARÇO, DISPENSE A ROSA!




Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: ”parabéns”.

Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde “obrigada”, pensando: “mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?”.

Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.

Dizem que a rosa simboliza a “feminilidade”, a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade — da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo “deflorar” (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a – afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são “putas”, inferiores, menos respeitáveis.

A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o “sexo frágil” e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro.Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes “passionais” – o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como “românticos” exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que “amam demais”, não os homens.

Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a “sedução” para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de “respeito” e as mulheres têm “mentes perigosas”. A mensagem subliminar é: “cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado”. E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua “mente perigosa” causaria coisas terríveis.

Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo “pós-feminista” afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?

Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 10oº lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso — onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.

A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor…). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser “feminina”. Porque, sim, feminilidade é isso: é “se cuidar”. Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: “let yourself go”). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. “Você se ama? Então corrija-se”. Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.

Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.

Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são “convidativas”, propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio , isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo “ê lá em casa” para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o “combo” da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando “chupá-la todinha”.

Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.

…Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu cu.


Autoria: Marjorie Rodrigues / Organização: Comunidade Feminismo e Libertação / Saiba mais sobre a campanha.

Dia Internacional da Mulher???

Gostaria de inaugurar o blog escrevendo um pouco sobre o Dia Internacional da Mulher.
Eu estaria muito feliz pela data ter caído no domingo este ano, se eu não trabalhasse no domingo é claro. Explico: trabalhar no Dia Internacional da mulher sendo uma significa aturar uma enorme carga de cavalheirismo machista, ouvir um parabéns, ganhar uma rosa murcha ou um chocolate comprado na promoção... talvez seja pior ouvir os anúncios e ver as promoções de cosméticos por aí ou ouvir as infames piadinhas.

Esta não é uma data para nos paparicar e nos tratar como bonecas, nem mesmo de nos oferecer algum tipo de vantagem, NÃO!!!
Esta, é uma data de luto, de protesto. Como posso dar um sorriso amarelo diante daquele parabéns de uma sociedade completamente misógina? Sinceramente? Não me desce uma coisa dessas.

Talvez aceite este cumprimento no dia em que receberemos de acordo com a nossa competência e não com o nosso sexo; no dia em que uma parcela bem considerável dos homens descobrir o quão ridículo é ficar abordando mulheres anônimas com cantadas nas ruas; que quando fizermos algo muito bem não se diga que o fazemos "que nem homem", nem que somos "muito macho"; que não sejamos anuladas nem no passado, nem no presente; que nossos erros sejam vistos como humanos e não como uma "tentativa de se nivelar ao homem por baixo"; que nossa vida sexual, seja ela como for, não diga respeito a ninguém que não a nós mesmas e que nenhuma de nós ouça insultos por fazer o que quiser de seu corpo; que nosso corpo nos pertencer integralmente e que as pessoas se sintam envergonhadas em estereotipar e impor padrões inalcansáveis; que sejamos vistas além do útero; que estupro seja crime hediondo contra a pessoa e não contra o costume; que nenhuma de nós tenha que se submeter ao estupro remunerado que é prostituição para conseguir sobreviver; que todas as pessoas encarem a pornografia (das dançarinas semi-nuas dos programas de domingo, passando pelas revistas ditas masculinas até os filmes pornô) como algo danoso para todos; que mulheres e homens possam se vestir, maquiar e cortar o cabelo como desejarem sem que isso implique em questionamentos sobre sexualidade; que todas as sexualidades sejam igualmente respeitadas; que dizer coisas como "Estupra mas não mata", "Lésbicas merecem ser estupradas para aprender a gostar de homem", "Se foi estuprada é por que provocou o estuprador" ,e suas variantes, seja motivo de indignação, revolta e protesto por parte da sociedade; que femicídio seja um crime punido duramente e que não se coloque os criminosos passionais como pobres apaixonados sofrendo de amor; que a violência doméstica seja inaceitável; que se insulte a pessoa quando se estiver com raiva dela e não sua mãe, esposa, irmã, prima, etc; que parem de nos ver como um objeto estuprável; que uma mulher possa andar sozinha sem medo ou preocupação; que uma mulher jamais seja considerada uma assassina por exercer sua liberdade e seu direito a seu corpo e que nunca seja considerada um monstro por não querer procriar ou se recusar a parir; por fim mas não menos importante que seja um absurdo inconcebível uma instituição religiosa condenar uma menininha por exercer seu direito legal e não fazer o mesmo com a criatura abominável que a violentou durante 3 anos.

Neste dia aceitarei de bom grado os parabéns, até lá terei que ficar com os pêsames e pensar que aquelas corajosas guerreiras morreram em vão.